Emílio Fonseca, Carmen e Henriquinho

Meu comentário

Uma família, o pai Emílio Fonseca, português, a mãe Carmen, espanhola e o filho Henriquinho, que José Saramago descreve em uma situação cotidiana com uma precisão cirúrgica e realidade ferina que, observada com toda atenção merecida, pode ser encontrada em qualquer família do mundo, já que esta, a família, é formada de humanos e humanos são formados de suas idiossincrasias que ao ajuntar para formar a família esquece-se que elas, as idiossincrasias, existem, seja por ilusão, seja por conveniência, e passa-se a viver esta ilusão de que em família, santa e santificada, será suprema sobre a individualidade de sentimentos, desejos e temperamentos. No fim, alguns se sufocam, outros se rebelam, mas os dois desfechos não são bons e a família, estruturada e imposta em modelo social indissolúvel, acaba por ser o cárcere para muitos, talvez para a maioria. E a vida vai se levando do jeito que melhor dê.

Transcrição do livro

"D. Carmen tinha um modo muito seu de saborear as manhãs. Não era pessoa que se deixasse ficar na cama até à hora do almoço e nem isso lhe era possível porque tinha de tratar da refeição do marido e de arranjar o Henriquinho, mas não lhe falassem em lavar-se e pentear-se antes do meio-dia. Adorava andar pela casa fora, durante a manhã, por arranjar, os cabelos soltos, toda ela descuidada e preguiçosa. O marido detestava semelhantes hábitos, que implicavam com as suas normas de regularidade. Vezes sem conto tentara convencer a mulher a emendar-se, mas o tempo encarregara-se de fazer-lhe ver que era tempo perdido. Apesar de a sua profissão de caixeiro de praça não lhe impor um horário rígido, escapava-se de manhã cedo só para não ficar indisposto todo o dia. Carmen, por seu lado, desesperava-se quando o marido se demorava em casa depois do café. Não que se sentisse obrigada por tal a faltar aos seus queridos hábitos, mas a presença do marido diminuía-lhe o prazer da manhã. O resultado é que, para ambos, dia em que isso acontecesse era dia estragado.
Nessa manhã, Emílio Fonseca, no preparar o mostruário para sair, verificou que alguém tinha baralhado preços e amostras. Os colares estavam fora dos lugares, misturados com as pulseiras e os alfinetes de peito, e tudo isto a trouxe-mouxe com os brincos e os óculos escuros. O responsável pelo desalinho só podia ser o filho. Ainda pensou em interroga-lo, mas achou que  não valia a pena. Se o filho negasse, desconfiaria de que estava mentindo, e isso era mau; se ele confessasse, teria de bater-lhe ou ralhar-lhe, o que seria pior. Sem contar que a mulher interviria logo, como uma fúria, e a cena acabaria em zaragata. Ora, farto de zaragatas estava ele. Colocou a mala sobre a mesa da casa de jantar e, sem palavra, procurou por ordem naquele desconcerto.
Emílio Fonseca era um homem pequeno e seco. Não era magro: era seco. Pouco mais de trinta anos. Louro, de um louro pálido e distante, o cabelo ralo e a testa alta. Sempre se envaidecera da altura da sua testa. Agora que ela estava maior por causa da calvície incipiente, preferiria tê-la mais baixa. Aprendera, no entanto, a conformar-se com o inevitável - e o inevitável não era apenas a falta de cabelo mas também a necessidade de arrumar a mala. Aprendera a ficar tranquilo em oito anos de casamento falhado. A boca era firme, com uns vincos de amargura. Quando sorria entortava-a ligeiramente, o que lhe dava à fisionomia um ar sarcástico que as palavras não desmentiam.
Henriquinho, com o ar embaraçado do criminoso que volta ao local do crime, veio mirar o que o pai fazia. Tinha uma cara de anjo, louro como o pai, mas de um louro mais quente. Emílio nem o olhou. Pai e filho não se amavam, nem pouco, nem muito: apenas se viam todos os dias.
No corredor ouvia-se a chinelar de Carmen, um chinelar agressivo, mais eloquente que todos os discursos. A arrumação estava quase completa. Carmen espreitou à porta da casa de jantar para calcular o tempo que o marido demoraria ainda. Já lhe parecia demasiada a demora. Neste momento, a campainha retiniu. Carmen franziu o sobrecenho. Não esperava ninguém àquela hora. O padeiro e o leiteiro já tinham vindo, e para o carteiro ainda era cedo. A campainha tocou outra vez. Com um 'já lá vai!´impaciente dirigiu-se para a porta, levando o filho nos calcanhares. Apareceu-lhe uma mulherzinha de xaile, com um jornal na mão. Mirou-a, desconfiada, e perguntou:
- Qué deseja? (tinha momentos em que ainda a matassem não falaria português).
A mulher sorriu com humildade:
- Bom dia, minha senhora. É aqui que está um quarto para alugar, não é? Podia vê-lo?...
Carmen ficou assombrada:
- Quarto para alugar? No hay aqui quarto para alugar.
- Mas o jornal traz um anúncio...
- Um anúncio? Deixe ver, se faz favor.
A voz tremia-lhe de irritação mal reprimida. Respirou fundo para acalmar-se. A mulher indicou-lhe o anúncio com um dedo espetado que tinha uma cicatriz de panarício. Lá estava, na coluna dos quartos para alugar. Não havia dúvida. Batia tudo certo: o nome da rua, o número do prédio e a indicação claríssima de rés do chão esquerdo. Devolveu o jornal e declarou secamente:
- Aqui não há quartos para alugar!
- Mas, o jornal...
- Já lhe disse. E, además, o anúncio é para caballero!...
- Há tanta falta de quartos, que eu...
- Com licença!
Fechou a porta na cara da mulher e foi ter com o marido. Sem passar da porta, perguntou:
- Puseste alguno anúncio no jornal?
Emílio Fonseca olhou para ela, com um colar de pedras coloridas em cada mão, e, erguendo uma sobrancelha, respondeu em tom calmo e irónico:
- Anúncio? Só se fosse para arranjar clientes...
- Anúncio de um quarto para alugar...
- De um quarto? Não, minha filha. Casei contigo em regime de comunhão de bens e autoridade, e não me atreveria a dispor de um quarto sem te consultar.
- No seas gracioso.
- Não estou a dizer graças. Quem se atreveria a ser engraçado contigo?
Carmen não respondeu. O seu incompleto conhecimento do português colocava-a sempre em inferioridade deste tiroteiro de picuinhas. Preferiu esclarecer com uma voz mansa que ocultava uma intenção reservada:
- Era una mujer. Trazia o jornal e vinha lá o anúncio. Era para aqui, no había confusión. E, como era una mujer, pensei que tivesses posto o anúncio...
Emílio Fonseca fechou a mala, de estalo. Apesar de a frase da mulher não ser bastante explícita, compreendeu-a. Levantou para ela os olhos claros e frios, e respondeu:
- Se fosse um homem teria que concluir que o anúncio tinha sido posto por ti?
Carmen corou, ofendida:
- Malcriado!
Henriquinho, que ouvia a conversa sem pestanejar, fitou o pai para ver como ele reagia. Mas Emílio encolheu lentamente os ombros e murmurou apenas:
- Tens razão. Desculpa.
- No quiero que me peças desculpa - redarguiu Carmen, já exaltada. - Quando me pedes desculpa estás a fazer pouco de mí. Antes quero que me batas.
- Nunca te bati.
- E no te atrevas!
- Descansa. És mais alta e mais forte que eu. Deixa-me conservar a ilusão de que pertenço ao sexo forte. É a última ilusão que me resta. Acabemos com a discussão!
- Y si yo quisiera discutir?
- Fazes mal. Eu tenho sempre a última palavra. Ponho o chapéu na cabeça e saio. E só volto à noite. Ou nem volto mesmo...
Carmen foi à cozinha buscar o porta-moedas. Deu dinheiro ao filho e mandou-o à mercearia comprar rebuçados. Henriquinho quis resistir, mas o atrativo dos rebuçados foi mais forte que a sua curiosidade e a sua coragem que lhe estava exigindo que tomasse o partido da mãe. Logo que a porta se fechou, Carmen voltou à casa de jantar. O marido sentara-se na ponta da mesa e acendia um cigarro. A mulher caiu a fundo na discussão:
- Não voltas, hem? Já cá sabia! Tens onde ficar, no? Já sabia, já desconfiava! O santinho de pau carunchoso, viram?... Y aquí estoy yo, la moira, la esclava, a trabajar todo el dia para quando sua excelência quisier vir a casa!...
Emílio sorriu. A mulher ficou enfurecida:
- Não te rias!
- Rio-me, pois claro que me rio. Por que não havia de rir? Tudo isso são pataratas. Há muitas pensões por essa cidade. Quem me impede de ficar numa delas?
- Yo!
- Tu? Ora, deixa-te de parvoíces! Tenho que fazer. Deixemo-nos de parvoíces.
- Emílio!
Carmen barrava-lhe a passagem, vibrante. Um pouco mais alta que ele, a face esquadrada de queixo proeminente, duas rugas fundas das asas do nariz aos cantos da boca, havia ainda nela uns restos de beleza quase esmaecidos, uma recordação de tez luminosa e quente, de olhos de olhar líquido e aveludado, de mocidade. Por momentos, Emílio viu-a como ela fora oito anos atrás. Um lampejo - e a recordação apagou-se.
- Emílio! Tu enganas-me!...
- Tolice. Não engano. Até posso jurar, se quiseres... Mas, se te enganasse, em que podia isso importar-te! Já é tarde para estas lamentações. Estamos casados há oito anos e, somados todos estes dias, que felicidade tivemos? A lua-de-mel, ou talvez nem isso! Enganámo-nos, Carmen. Brincámos com a vida e estamos a pagar a brincadeira. É mau brincar com a vida, não achas? Que dizes tu, Carmen?
A mulher sentara-se, a chorar. Entre lágrimas, exclamou:
- Soy una disgraciada!
Emílio pegou na mala. Com a mão livre afagou a cabeça da mulher com uma ternura esquecida, e murmurou:
- Somos dois desgraçados. Cada um a seu modo, mas acredita que somos os dois. E talvez seja eu o maior."

Referência SARAMAGO, José. Claraboia. Edição em EPUB:Caminho, 2011.

Entre o dever e o desejo

Meu comentário
Magistralmente Saramago mostra uma Isaura com o dever a cumprir das camisas para entregar em tempo, e curto, por assim entender, e o desejo de terminar o romance que, quem sabe, era onde se refugiava na sensação de realmente viver, ou onde queria viver, mesmo no fantasioso onde, muitas vezes, não se tem outra alternativa.

Transcrição do livro
"... mas nessa manhã não sentia ânimo para conversar. Tinha um monte de camisas para acabar até o fim da semana. Sábado tinha que entrega-las, desse lá por onde desse. Por sua vontade, acabaria de ler o romance. Só lhe faltavam umas cinquentas páginas e estava na passagem mais interessante. Aqueles amores clandestinos, sustentados através de mil peripécias e contrariedades, prendiam-na. Além, disso, o romance estava bem escrito. Isaura tinha experiência bastante de leitora para assim julgar. Hesitou. Mas bem via que nem sequer tinha o direito de hesitar. As camisas esperavam-na. Ouvia lá dentro um ruído de vozes: a mãe e a tia falavam. Muito falavam aquelas mulheres. Que tinham elas a dizer todo o santo dia, que não estivesse já dito mil vezes?"

Referência SARAMAGO, José. Claraboia. Edição em EPUB:Caminho, 2011.

Documentário: José Saramago e o Memorial do Convento

Conheça a história do livro Memorial do Convento de José Saramago.

José Saramago no programa Roda Viva de 2003

Última entrevista de José Saramago ao programa Roda Viva da TV Cultura em 2003. José Saramago morreu aos 87, em 18 de junho de 2010. Único representante da língua portuguesa a ganhar o Nobel de Literatura.

Amantes e Corpos

Meu comentário
José Saramago descreve com perfeição o prazer e o desconforto dos corpos que se amam, querem ficar juntos, grudados, mas não é da anatomia natural que se consiga como se queria.

Transcrição do livro
"No quarto ao lado dormiam cansados os amantes, nos braços um do outro, maravilha que infelizmente não pode durar sempre, e é natural, um corpo é este corpo e não aquele, um corpo tem um princípio e um fim, começa na pele e acaba nela, o que está dentro pertence-lhe, mas precisa de sossego, independência, autonomia de funcionamento, dormir abraçados exige uma harmonia de encaixes que o sono de cada um desajusta, acorda-se com o braço dormente, um cotovelo fincado nas costelas, e então dizemos baixinho, reunindo toda a ternura possível, Meu amor chega-te para lá."

Referência
SARAMAGO, José. A jangada de pedra. São Paulo:Record, 1980.

José, Maria e o mistério da alma

Meu comentário
Neste trecho do O Evangelho Segundo Jesus Cristo, Saramago combina dois personagens inigmáticos para a humanidade, com histórias e controvérsias que os cercam, em uma situação tipicamente comum, mas, para observadores atentos tráz questões que o homem busca entender desde quando conseguiu desenvolver a compreensão e curiosidade. Talvez demore muito ainda, pois faz parte da sua evolução, e cada coisa acontece a seu tempo, nem cedo, nem tarde, para obter a resposta que muitos, por ignorância, por medo e até por tirania, pensa que já a tem.

Transcrição do livro
"A noite ainda tem muito para durar. A candeia de azeite, dependurada de um prego ao lado da porta, está acesa, mas a chama, como uma pequena amêndoa luminosa pairando, mal consegue, trémula, instável, suster a massa escura que a rodeia e enche de cima a baixo a casa, até aos últimos recantos, lá onde as trevas, de tãos espessas, parecem ter-se tornado sólidas. José acordou em sobressalto, como se alguém, bruscamente, o tivesse sacudido pelo ombro, mas teria sido ilusão de um sonho logo desvanecido, que nesta casa só ele vive, e a mulher, que não se mexeu, e dorme. Nâo é seu costume despertar assim a meio da noite, em geral não acorda antes de larga frincha da porta começar a emergir do escuro,cinzenta e fria. Inúmeras vezes pensara que deveria tapá-la, nada mais fácil para um carpinteiro, ajustar e pregar uma simples régua de madeira que sobrasse duma obra, porém, a tal ponto se tinha habituado a encontrar na sua frente, mal abria os olhos, aquela vara vertical de luz, anunciadora do dia, que acabara por imaginar, sem ligar ao absurdo da ideia, que, faltando ela, poderia não ser capaz de sair das trevas do sono, as do seu corpo e as do mundo. A frincha da porta fazia parte da casa, como as paredes ou o tecto, como o forno ou o chão de terra apisoada. Em voz baixa, para não acordar a mulher, que continuava a dormir,pronunciou a primeira benção do dia, aquela que sempre deve ser dita quando se regressa do misterioso país do sono, Graças te dou, Senhor, nosso Deus, rei do universo, que pelo poder da tua misericórdia, assim me restituis, viva e constante, a minha alma. Talvez por não se encontrar igualmente desperto em cada um dos seus cinco sentidos, se é que, então, nesta época de que vimos falando, não estavam as pessoas ainda a aprender alguns deles ou, pelo contrário, a perder outros que hoje nos seriam úteis, José olhava-se a si mesmo como se fosse acompanhando, a distância, a lenta ocupação do seu corpo por uma alma que aos poucos estivesse regressando, igual a fios de água que, avançando sinuosos pelos caminhos das regueiras, penetrassem a terra até às mais fundas raízes, transportando a seiva, depois, pelo interior dos caules e das folhas. E por ver quão trabalhoso era este regresso, olhando a mulher, a seu lado, teve um pensamento que o perturbou, que ela, ali adormecida, era verdadeiramente um corpo sem alma, que a alma não está presente no corpo que dorme, ou então não faz sentido que agradeçamos todos os dias a Deus por todos os dias no-la restituir quando acordamos, e nesta altura uma voz dentro de si perguntou, O que é que em nós sonha o que sonhamos, Porventura os sonhos são as lembranças que a alma tem do corpo, pensou a seguir, e isto era uma resposta. Maria moveu-se, acaso a alma dela estaria ali por perto, já dentro de casa, mas no fim não despertou, apenas andaria afãs de sonho, e, tendo soltado um suspiro fundo, entrecortado como um soluço, chegou-se para o marido, num movimento sinuoso, porém inconsciente, que jamais ousaria quando acordada. José puxou o lençol grosso e áspero para os ombros e aconchegou melhor o corpo na esteira, sem se afastar. Sentiu o calor da mulher, carregado de odores, como de uma arca fechada onde tivessem secado ervas, lhe ia penetrando pouco a pouco o tecido da túnica, juntando-se ao calor do seu próprio corpo. Depois, deixando descer devagar as pálpebras, esquecido já de pensamentos, desprendido da alma, abandonou-se ao sono que voltava."

Referência
SARAMAGO, José. O evangelho segundo Jesus Cristo. São Paulo:Companhia das Letras, 2002.

A história mais instigante da humanidade

Meu comentário
Contar e recontar a história mais instigante da humanidade não é tarefa para qualquer um, mas também é de todos. Porém, é preciso muita sensibilidade e capacidade de entendê-la sob todos os ângulos em que ela se apresentou até agora e continuará se mostrando por outros novos que somente poderão ser reconhecidos e vistos com a contínua evolução do homem, se assim o homem quiser. E José Saramago, para a nossa sorte, descobriu mais um novo ângulo com a sua obra O Evangelho Segundo Jesus Cristo.

José Paulo Paes escreveu sobre a obra de Saramago:

"Essa tradição ininterrupta porque viva, viva porque ininterrupta,...
... José Saramago nos conta mais uma vez a mesma história que vem sendo contada já tantos séculos. A mesma? Sim, se se tiver em vista tão só os personagens e os sucessos da fábula. Não, se se atentar para a nova carnadura de que aqui se revestem. Interessado menos na onipotência do divino que na frágil mas tenaz resistência do humano, a arte magistral de Saramago excele no dar corpo às preliminares e à culminância do drama da Paixão, presentificando-lhes as cores, cheiros, sons, movimentos, esmiuçando-lhes as ambigüidades e implicações em busca de significados recônditos por sob os ostensivos. Leiam-se a título de exemplo de presentificação, as páginas de bravura que pintam os sacrifícios de sempre no Templo de Jerusalém. E onde melhor exemplo de esmiuçamento crítico que as páginas de socrática agudeza e voltaireana ironia acerca do debate travado por Cristo com Deus e o Diabo na barca perdida em meio ao nevoeíro de quarenta dias?
Mas é bem de ver que nessa agudeza não há soberba de espírito, nem há desencanto do mundo nessa ironia: há lucidez e compreensão do humano, demasiado humano."

Referência
SARAMAGO, José. O evangelho segundo Jesus Cristo. São Paulo:Companhia das Letras, 2002.